segunda-feira, 19 de maio de 2008

REGGAE NA PERIFERIA

No estado do Maranhão, o reggae alcançou nas últimas décadas, uma popularidade tamanha que fez com que especialmente a cidade de São Luís ficasse internacionalmente conhecida como a Jamaica Brasileira. A presença do ritmo no dia-a-dia do maranhense acabou por inserir o reggae dentre os aspectos que fazem parte da cultura local, se difundindo entre as várias camadas da população, pois onde quer que se vá, as pessoas dançam, cantam ou escutem reggae. É inegável, porém, que a essência do ritmo nasce na periferia. É lá que o reggae não somente se consolida, como de onde surgem suas inovações e peculiaridades, pois o ritmo está em constante movimento e mudanças dinâmicas. No entanto, longe de modismos ou de seguir padrões e estereótipos, nas periferias as pedras rolam pra atender à massa regueira. É onde o reggae é tocado com paixão, com alma. Na periferia cabe tudo em matéria de reggae: do roots ao eletrônico, ainda que o regueiro maranhense tenha uma tradição com o reggae roots. Lá se dança sozinho, ou agarradinho; ou apenas se curte as pedras, sem mexer o corpo, movimentando apenas a alma, em uma cadência espiritual!
O reggae se confunde com a periferia, em uma relação simbólica porque, tal qual a periferia, sofre discriminação e preconceito. Lá, o regueiro é abordado de qualquer forma; é visto como elemento e não como sujeito de direitos. As festas na periferia possuem uma segurança, muitas vezes, frágil, proporcionada em sua maioria, pelos cidadãos que promovem as festas e se estende somente ao interior dos clubes e bares.
Por essa razão, muitos bares e mesmo festas tradicionais vêm acabando, pela insegurança que se espalha, principalmente nos guetos e lugares periféricos, pois, nota-se que o Estado, enquanto responsável pela segurança dos cidadãos, não propicia o aparato necessário para que os cidadãos que freqüentam ou pensam freqüentar as festas de reggae se sintam seguros.
Pelo contrário, as festas na periferia são acabadas na maioria das vezes, antes do horário previsto, porque reggae ainda é considerado sinônimo de marginalização e conflitos (mesmo que estes ocorram fora dos espaços onde ele é tocado); manda quem tem a força, normalmente coisificada pelo cacetete, por armas ou pela mão que atinge as partes baixas violentamente, porque regueiro, principalmente regueiro pobre e preto da periferia é antes de tudo, suspeito.
A população, pois, tem consciência de que a maioria dos conflitos ocorridos nas proximidades dos espaços de reggae estão diretamente ligados à ausência de políticas públicas voltadas para o segmento e, por falar em política, questiona-se também, onde estão os vários políticos eleitos pelo reggae no Maranhão? O que tem feito esses sujeitos para melhoria da qualidade de vida do regueiro e pela difusão do ritmo no Estado? Por que quando se realizam seminários e encontros para discussão sobre o tema nenhum deles aparece?
É fato que se tornou imprescindível a construção de uma política voltada para este aspecto da cultura do Maranhão, política esta fomentada através de discussões, debates e, principalmente, ações que possibilitem ao regueiro o que ele busca ao sair de sua casa, para uma festa: lazer e tranqüilidade. Porém, para que isto ocorra é imperativo que TODOS participem dessa construção, de modo especial, aqueles que vivem do reggae ou que construíram as bases de sua vida econômica e política através do reggae.
Considerando, pois, que a despeito de tudo e de todos, seja incontestável a força do reggae no estado do Maranhão, os governos municipais e estaduais precisam buscar alternativas no sentido de possibilitar que nos espaços onde o ritmo é tocado, as pessoas encontrem apenas diversão e alegria. Que a preocupação maior do regueiro esteja em colocar o capacete para que as pedras possam rolar em abundância e profusão! Porque o verdadeiro sentimento e modo de viver reggae se encontram na periferia. E quando ele ‘rola’ no lugar onde surgiu e se sedimentou, então não há quem não se sinta em casa...acolhido, porque reggae é, sobretudo, inclusão! Não é preciso estar usando a roupa ou o sapato da moda. O reggae é para pessoas de todas as raças, cores, classes sociais porque, como dizia o rei, Bob Marley, reggae é sentimento; expressão própria!

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